Segurança e Liberdade

17 junho, 2024

Vivemos na sociedade do mal-estar. O que na época de Freud vinha do desejo reprimido em troca de segurança foi substituído na pós-modernidade pela liberdade individual. Bauman diz “Se obscuros e monótonos dias assombraram os que procuravam a segurança, noites insones são a desgraça dos livres”. Acontece que quando a gente fica mais livre, mais a gente fica desamparado. Sempre está faltando algo.

Um problema ético se instaura no ponto em que liberdade acarreta também responsabilidade. Responsabilidade pelos outros e por nós mesmos. A moral dá as caras a partir da liberdade de poder escolher o caminho a ou b. Existem valores que vão nos limitar antes mesmo de nascer. Com base nas escolhas é que a moral se estabelece - ou será o contrário? Quais valores serão levados em consideração quando se é livre para escolher? Visto que a sociedade é uma extensão de casa, podemos pensar que também começa em casa a responsabilidade sobre a liberdade e a democracia. Somos responsáveis uns pelos outros num conflito de amor e ódio.

Na Grécia a Ética se baseava numa vida boa, vida bem vivida. Kant sugere que a Ética está relacionada com ser bom, obedecer as regras, agir de modo reto. Já Freud nos apresenta a Ética da lei, da proibição para regular os instintos primitivos. Por fim, Winnicott surge com a Ética do cuidar, que envolve a responsabilidade da mãe para com seu filho, dizendo que o bebê precisa de um ambiente que o sustente. 

Assim, para tornar-se humano, o bebê precisa do olhar da mãe, precisa ser visto, ser tocado, necessita de um diálogo corporal, é preciso “ouvir com os olhos”. Como diz Dolto, tudo é linguagem, o pré-verbal é linguagem. O bebê precisa do cuidado da mãe para ser alguém. Para além disso, a criança também precisa do Não, uma vez que o Não nos dá um contorno. A criança quer algo macio (cuidado), mas também quer algo duro (lei). É importante que vivencie o dar e o receber - reciprocidade; a esperança e desesperança. O ser humano tem uma tendência à destrutividade, a agressividade humana faz parte da vida desde bebê. O bebê agride o seio que demorou para o alimentar. Mas a perversidade acaba quando o vazio é preenchido. Amor e ódio.

Na clínica, o paciente pode aparecer com o falso self, que é a maneira de viver na qual a ele se adaptou durante a vida, contudo é importante que o analista ajude o paciente e a entrar em contato com o próprio self. É necessário realizar um atendimento sob demanda, como com Winnicott a criança, que precisava reviver o nascimento, escorregava no seu colo - acting out. Ele nos apresenta a clínica baseada na experiência. Para Winnicott, nós elaboramos com o corpo inteiro. Assim sendo, tal como a mãe, o analista também precisa estar de olho na linguagem do paciente, de toda forma em que esta se apresente. Seja no amor, ou no ódio. 

É preciso acolher em um ambiente seguro e com contornos, para que a liberdade e independência possam se fazer presentes.

set/2022

 

Envelhecimento nos dias atuais. Limites e Alcances

17 junho, 2024


            Com a evolução da ciência e tecnologia, a expectativa de vida tem aumentado, esperamos morrer cada vez mais tarde. Contudo, o grande desComo deixar os cabelos grisalhos em etapas sem precisar cortar? Veja dicas  | Beleza | iGafio é melhorar para além da quantidade de anos vividos. É preciso pensar também na qualidade de vida desses “novos” anos que vamos ganhando. A sociedade precisa se reformular, não estamos preparados para sermos velhos, mas sim estimulados pela busca da eterna juventude, o que ainda é acentuado no caso das mulheres. Eu que o diga...

Apesar disso, podemos observar uma pequena onda de mudanças sobre esse tema. Os cabelos grisalhos que antes eram tidos como sexy para os homens e “desleixo” para as mulheres, hoje começam a abrilhantar a cabeça delas também. Já era hora, afinal! Não diria que já é aceito e visto com bons olhos de maneira geral, mas é um começo para normalizar nosso processo de envelhecimento. O envelhecer é algo que não precisa ser escondido, mas aceito e com orgulho. Ser velho é lindo!

Para além da estética, outra problemática que vemos é como podemos manter essa parcela da população em atividade, em movimento, em vida. Considerando que consigam se aposentar (pois aí já é uma questão para os velhos futuros), o que os velhos de hoje podem fazer com seu tempo livre? Algumas pessoas, mesmo aposentadas, continuam a trabalhar, pois não conseguem ficar sem fazer nada, apresentam sentimento de inutilidade e em alguns casos chegam a ficar deprimidas. Acontece que poderiam e podem fazer tantas outras atividades que não seja um dever a cumprir, pois já tiveram toda uma vida dedicada ao trabalho.

Em muitos locais já se encontram políticas públicas voltadas ao lazer, socialização e cuidados com o idoso. São práticas muito interessantes, além dos espaços nas universidades, os jogos e games desenvolvidos para essa faixa etária, e os tão conhecidos bailes da terceira idade, até os famosos bingos, dentre outros. Embora sejam propostas bem interessantes, o alcance na população ainda é ínfimo. Escuto bastante a respeito de cuidados quando o idoso precisa de um cuidador (profissional), ou até a necessidade de ir para uma casa de repouso, o que pode ser super válido dependendo do nível de cuidados necessários. Contudo, pouco ouço falar a respeito de práticas de saúde que não seja ausência de doença. Não ouço tanto sobre a saúde como a promoção de uma melhor qualidade de vida. Existe, mas precisamos ampliar as discussões e práticas a respeito do envelhecer, pois isso vai acontecer, ou melhor, está acontecendo com todo mundo.

Sim, você está ficando velh@.

Relaxa, eu também! ;)

jul/2022